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Cuidado para não se apaixonar pelo seu produto!

O apego à solução pode colocar em risco a relevância da sua empresa — mesmo quando tudo parece ir bem.

Toda empresa que constrói um produto bem-sucedido enfrenta, mais cedo ou mais tarde, um dilema:

Como preservar o que funciona sem perder a capacidade de se adaptar à nova realidade do mercado, do cliente e da tecnologia?

Nos últimos anos, temos acompanhado empresas de diversos setores e tamanhos enfrentando esse ponto de inflexão.

As vendas começam a desacelerar. O entusiasmo do mercado diminui. As funcionalidades que um dia encantaram os clientes passam a ser apenas… esperadas.

Nenhum produto é imune à obsolescência.
A única vantagem realmente sustentável, como bem aponta Rita McGrath, é a capacidade de construir e reconstruir vantagens continuamente.


Quando o sucesso passado começa a atrapalhar o futuro

É natural que times se conectem emocionalmente aos produtos que criaram.
Existe esforço, orgulho, história e, muitas vezes, identidade envolvida.

Mas esse vínculo pode virar ponto cego quando impede o time de perceber que o contexto mudou.

O que começou como uma solução para um problema real vira o centro da estratégia. E qualquer tentativa de revisão passa a ser tratada como ameaça.

Nesse processo, os sinais externos vão sendo distorcidos:

  • Feedbacks críticos são descartados como exceção.
  • Mudanças de comportamento do cliente são ignoradas.
  • Oportunidades de reposicionamento e inovação são adiadas.

A literatura de inovação está cheia de exemplos.

A teoria do Dilema do Inovador, de Clayton Christensen, mostra como grandes empresas fracassam não por incapacidade técnica, mas por insistirem em proteger produtos que um dia as tornaram líderes.

Nokia, Orkut, Yahoo, Netshoes…
Empresas que se apoiaram demais no sucesso do passado e perderam o timing para adaptar o portfólio, a estratégia ou até o modelo de negócio.


3 armadilhas que minam a relevância do produto

Segundo o CB Insights (2023), 42% das startups que falham citam a perda de product-market fit como a principal causa.

Esse dilema costuma estar associadas a três armadilhas comuns:

  1. Confundir produto com propósito

Quando a solução vira o fim — e não mais um meio — a empresa se distancia do cliente.

Negócios consistentes mantêm o propósito firme, mas ajustam a forma de entrega com flexibilidade e consciência de contexto.

  1. Ignorar sinais do mercado

Mesmo com dados claros, é comum que times resistam a mudanças e relativizam a queda de tração.

Mas, se o produto não evolui junto com o comportamento do consumidor, ele perde a relevância.

  1. Inovar pelo hype, não pela necessidade

Adotar tecnologias como IA, blockchain ou IoT sem uma dor clara do cliente leva a ciclos de investimento alto, retorno baixo e frustração organizacional.

Inovação sem propósito é apenas complexidade disfarçada de modernidade.


O antídoto? Construir rotinas de desapego

Manter um produto competitivo não depende apenas de visão de futuro, mas da capacidade de escutar, questionar e criar processos que favoreçam a evolução contínua da proposta de valor.

Na prática, isso significa:

  • Ouvir os clientes certos — com método e frequência.
  • Validar hipóteses com dados reais — e não apenas com intuição.
    Criar espaço para decisões difíceis — especialmente aquelas que tocam em produtos já consolidados.

Essa é a essência do que chamamos de rotinas de desapego.

Processos que ajudam o time a olhar para o produto com mais objetividade, reconhecendo quando é hora de evoluir, simplificar ou até abandonar o que já não entrega valor.

Na Jump, temos apoiado empresas a estruturarem essas rotinas de forma prática e estratégica.

Revisamos portfólios, repensamos jornadas, reorganizamos fluxos de decisão e criamos mecanismos para que o produto não vire um peso, mas continue sendo um ativo de crescimento.

Bons produtos vêm e vão.
Mas empresas comprometidas com relevância continuam sendo procuradas — em qualquer cenário.

Seu produto ainda resolve um problema real, ou apenas repete o que já foi validado um dia?